Amigos e amigas,
Sei que, com a exceção de alguns poucos, há tempos não converso com vocês sobre política ou sobre o país que estamos construindo.
Lembro-me com saudades e uma certa dose de nostalgia dos meus tempos do Colégio Equipe, quando tínhamos a liberdade natural que a juventude nos dava, de botar todas as culpas nos nossos pais (ou ao menos nos pais dos outros, o que dá no mesmo...).
Ultimamente, tenho estado sobremaneira preocupado e incomodado: este país em que vivemos hoje é o país que NÓS estamos construindo. Por incrível que possa parecer, tenho medo que estejamos fazendo um trabalho muito pior que os nossos pais. Vou me explicar:
A primeira eleição em que votamos, foi também a primeira em que a maioria de nossos pais votou. Eles lutaram bravamente por este direito. E vocês se lembram como foi? Vocês se lembram dos candidatos? Eu me lembro. Votei no Roberto Freire no primeiro turno e no Lula no segundo. As razões de meus votos: a ideologia e a ética. A busca de uma proposta de país mais justo, honesto e fundamentalmente democrático.
Vocês se lembram dos debates? Eu me lembro. Maluf, Ulisses Guimarães, Lula, Brizola, para citar os mais interessantes. Que aula de política era assistir às discussões entre o Brizola e o Maluf!!! Posturas políticas e ideológicas claramente antagônicas, mas representativas de grupos da sociedade. Estávamos aprendendo a lidar com a democracia.
E o Collor ganhou. Justamente aquele candidato sem história, sem contribuições importantes, sem grupo ideológico definido. Justamente aquele candidato que soube se aproveitar melhor da retórica populista, o "caçador de marajás que tinha aquilo roxo"... Nós atribuímos sua vitória à "juventude" da democracia brasileira. Um erro que corrigiríamos com o tempo e com a prática democrática. E ficamos de olho. E corrigimos o erro no primeiro escorregão que ele deu: ele que não viesse esculhambar a nossa democracia, corrompendo o congresso e querendo governar com e para seus amigos!!! Pintamos nossas caras e o tiramos de lá!!! Por mais que não tivéssemos prática democrática, nossos pais nos tinham ensinado o que era certo e o que era errado. E deixar alguém governar com as práticas coronelísticas da época da ditadura era errado! Deixar alguém governar corrompendo o congresso era errado!!! Deixar alguém governar com base na popularidade populista (desculpem o pleonasmo) era errado!!! Nossos líderes da oposição (Lula, Covas, Ulisses, Brizola, Pedro Simon, Roberto Freire, entre outros) também materializavam esta visão: era possível e necessário ter um modelo diferente de gestão do país.
E hoje? Após 20 anos de governos democraticamente eleitos por nós, sendo que ao menos 16 com ideologias mais ou menos alinhadas ao que pensávamos em nossa juventude. Quais as referências que estamos dando para os nossos filhos? O que é certo? O que é errado? Por que raios passou a ser normal a compra do congresso como forma de "garantir a governabilidade", prática iniciada por FHC e perfeccionada por Lula? Por que raios aqueles nossos líderes (não todos) mudaram de opinião? Por que raios aqueles líderes agora acham que o Sarney, o Jader, o Renan, a família Magalhães e até o Collor não estão tão errados assim? Por que a eleição está resumida a ser contra ou a favor do Lula? E afinal de contas, o que significa isso? Do que é o Lula a favor? É a favor da aliança com o Obama? Com o Ahmadinedjad (nem sei se é assim que se escreve o nome dessa aberração)? Com ambos? Recuso-me a acreditar que nós, aqueles jovens tão conscientes e iluminados, confiantes de que estávamos iniciando a construção de um país vitorioso estejamos deixando que as velhas práticas caudilhistas da política brasileira se perpetuem.
Como economista que sou, acredito que o sucesso econômico é de fato uma força motriz fundamental na evolução das sociedades. Mas como Brasileiro que sou, não posso aceitar que esta força suplante os valores e a ética que nossos pais nos ensinaram, com tanto custo, a defender. Por fim, recuso-me a encarar esta eleição como um plebiscito populista. A história da humanidade - e do nosso país - já nos mostrou o quão perigosos são estes momentos. De Hitler a Perón, passando por Getúlio e Juscelino, nações perderam muito (e algumas nunca recuperaram) no seu processo de desenvolvimento de sociedade. O Brasil, este NOSSO Brasil, não pode se dar ao luxo de involuir democraticamente.
Desculpem-me pelo tamanho do post, mas nós, "elite pensante" que somos (lembram-se disso?), precisamos pensar e agir um pouco mais.
Ainda é tempo.
E o país, é nosso!
Abraços,
Rodrigo